terça-feira, 14 de dezembro de 2010

o natal


A época do ano que me deixa mais sem jeito está aí a bater à porta… todos os anos passamos esta fase e fazemos uma retrospecção do ano que se passou. Mais um ano que passa, menos um que falta para viver. Tenho saudades de ser criança. Naqueles tempos em que tudo era básico e linear. Não vivia na corda bamba, e as tristezas duravam no máximo quinze minutos. Tenho saudades de defender o pai natal como se não houvesse amanha! Quem questionasse o que eu dizia, tinha um grave problema! Porque o pai natal é a mais pura das ilusões das crianças. A mais magnifica e linda ilusão de infância de que me recordo… agora… agora o natal não é daquele jeito que era. Não é obrigar a comer bacalhau, porque cresci e já gosto. Não é abrir presentes, porque o efeito surpresa já não é o que era… não é estar em família, simplesmente porque não estás aqui pai! Todos os anos me relembro do dia 16 de Dezembro de 2003. O dia em que contigo foi uma grande parte de mim! Não deixei de sorrir, nem tão pouco de chorar. Não deixei de viver, não! Simplesmente guardo um nó dentro de mim, que principalmente neste mês do ano, me custa a desembaraçar! Sou uma parte do que foste. Do que és… em mim! E nos meus irmãos está e estará sempre uma parte de ti. Gostava de acreditar como muita gente diz, que o céu e a terra conspiram a meu favor! Mas não. Só por te levarem de mim deixou de haver qualquer tipo de justiça divina ou força superior. Aprendi a viver com a tua ausência… mas se me perguntarem se me conformei… não! Nunca me conformarei por me tirarem o meu tesouro mais precioso. E agora penso se te disse as vezes necessárias que te amo? Se te disse que tinha saudades tuas quando as tinha… se te abracei ou beijei sempre que me apeteceu… não sei! Não me lembro… o tempo voa! E isto não é excepção! Já lá vão sete anos. E continuo a ter comigo esta dor. Que nunca me vai libertar, a não ser quando eu morrer. Não é uma dor que está sempre a magoar. É uma dor que quando acorda, mói, magoa, fere, tortura. É a dor da saudade. Uma saudade que não tem mais volta. Uma saudade que será eterna. O que ainda faz sofrer mais.
O natal traz consigo um pinheiro enfeitado com luzes, estrelas e sinos. Traz reuniões familiares. Traz muita comida, e concede desejos. Traz alegria nas casas, e fogo nas lareiras. Traz prendas, traz o pai natal para os mais novos. Traz doces típicos. Traz um presépio e leva as gentes das ruas. O natal pára o mundo! Ainda que o seu motivo principal esteja cada vez mais esquecido, o natal é o dia da família, onde toda a gente traz o que de mais puro tem e pode oferecer. O natal traz tudo, só não traz o meu pai que era o que eu mais queria na minha meia de natal!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

nasci


Nasci da relação do instinto animal com o espírito humano de sobrevivência. Com ou sem características especiais, sou mais uma nos milhões de pessoas que compõem o mundo e dão continuidade a esta espécie tão magnifica e especial. Se calhar se soubesse que teria sido apenas um momento de deleite, ainda me desvalorizaria mais. Na insegurança opto por me achar semelhante a todos os seres vivos que se aguentam em duas pernas e têm emoções. Na realidade é mesmo isso que cada um é: tão próximo das plantas, como da água, como dos animais. E, ainda assim, mesmo extraindo o melhor e a força que tudo isso nos dá, conseguimos ser o bicho mais maquiavélico na terra. Se me dissessem que nasci do fervor do sol e da energia da água, deixava-me flutuar apenas nesse vazio que preenche toda a natureza e a transforma em essencial. Como nasci de prazer humano, reduzo-me à insignificância que o homem tem quando se tentar colocar em grau de igualdade com o planeta terra.

domingo, 21 de novembro de 2010

ruiva



Sou terra. Fui mar. Não houve um momento em particular que me deixasse ser apenas o horizonte. Não fui apenas eu. Se olhasse para mim da janela, via uma estranha que não sabia o que fazia. É tão complicado olhar para o filme do passado da nossa vida, e sentir arrependimento. Talvez não mudasse nada porque com tudo o que se passou, aprendi! Mas, ainda assim, é estranho ver que o meu passado é de uma pessoa que não sou eu! Naquela altura era tão impotente e vulnerável, que me deixava apenas levar e possuir por ti, sem sequer me perguntar porquê! Se era feliz? Talvez! O comodismo falava sempre mais alto, e colava-me a ti. Foi estranho, fui diferente. Nem o mar e a terra estão tão diferentes como nós. Sinto-me nua quando me abordas com o que eu fui! Não sou assim. Queria conseguir caminhar e esquecer que um dia fui cinza... apesar de agora estar bem a cores! Se te quero? Hummm... não sei!
Ruiva

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

amor



Mais cedo do que pensas és terra fina e fria. É difícil aceitar que tudo isto é uma ilusão no que se chama eternidade. Se sentir a falta de alguém, é secundário. Nada é mais principal do que este sonho tão curto a que chamamos vida. Se tiver o azar de te perder sem te provar o quanto te amo, verás, quando acordares do teu sonho, que sou lágrimas incontroláveis. Não sei. Não vi! Sinto-me tão impotente como um grão de areia na imensidão que é a praia. Fazes me falta. Não por aí... mas por aqui! Bem perto do que julgo ser o meu corpo! Talvez no meu coração...

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

pai


Se olhasse no fundo do mar, percebia que na linha de horizonte estás tu. Por mais que tente lá chegar sinto uma impotência difícil de controlar. O meu olhar fica preso aqui em terra, enquanto me proteges lá de longe. Tenho saudades de quando estavas do meu lado do horizonte, aqui perto de mim! Impossível eu sei. Tento chegar-te, mas não consigo. A tua falta deixa-me descontrolada... é difícil ter alguém tão presente e depois tão ausente. Por tanto tempo. Dias após dias, momentos que não estiveste por perto, alturas que não estavas para conversar comigo. Não me deste mais beijos para adormecer! Não te culpo. Fizeste sempre de tudo para continuares aqui junto de nós. Mas é tão difícil enfrentar esta ideia de “para sempre” que nos é imposta quando vais para o outro lado do horizonte. Sim! Tento chegar-te. Procuro-te no ar, olho as tuas fotografias. Ainda assim sei que estás do outro lado da margem. A margem que eu não chego! Não penses, nunca penses que me zango contigo por não teres acompanhado o resto da minha vida, ou por não estares por perto fisicamente. Tu és o melhor do mundo. O meu orgulho em ti é enorme. Ainda bem que sou tua filha. Isto que sinto é saudade. São nervos de não poder controlar algumas coisas à minha volta. São lágrimas de saudades. São vontades de ouvir a tua voz, de ver a tua cara, de receber um beijo teu antes de dormir. Eu não consigo controlar estas saudades imensas que me perseguem em todo o lado. Só te queria aqui. Só isso. Mas não pode ser... não posso voltar atrás, não tenho o poder de fazer renascer pessoas, e, sobretudo não consigo chegar-te do outro lado do horizonte. Eu sei que estás junto a mim... só que não te consigo encontrar, sentir! Esta sensação irrita-me... saudades que não posso resolver! Gosto muito de ti, juro.

sábado, 9 de outubro de 2010

amar assim, desta maneira!


Chovia. Tão forte estava o temporal, que me aterrorizava, ainda que só pela janela. Faltavas aqui tu, a tua força distinta, para me proteger. Sou vulnerável, tanto quanto quando nasci. Estou desprotegida, como se saísse hoje da barriga da minha mãe. Nunca to demonstrei, para que não percebesses a fraca que sou. Mas, na verdade, sou medrosa, e tenho pânico de perder os que gosto. Podia ter medo de animais ferozes, de pessoas más… podia ter medo da água, ou de adormecer e não acordar! Não. Não tenho medo disso. Tenho um medo muito maior. Perder as pessoas que gosto. Perder quem está guardado no meu coração. Se fechar os olhos, e estiver no escuro, vejo o teu sorriso. Vejo o brilho dos teus olhos de felicidade. Se pensar em ti, recordo todos os tempos que viveste presente na minha vida. Recordo o teu cheiro, a tua roupa. Recordo-te na praia, no jardim, no carro. Recordo-te em todo o lado, simplesmente por não estares presente fisicamente, és omnipresente. Sinto a falta de aparares o meu choro, e perguntares sobre a minha felicidade. Sinto simplesmente a tua falta. Queria-te aqui comigo. Amo-te desta forma, como só sabe uma filha amar um pai.

amor


Se os cabelos louros e rebeldes me chegassem mais perto… conseguiria identificar aquele perfume que ajudou a acalorar o ambiente tantas outras vezes. Agora não. Permites-me que te veja apenas da janela, como se fosses mais uma no meio de uma sociedade. Aos olhos de outro qualquer, podes ser, aos meus não! És especial. Se conseguisse fazer relembrar de todo o nosso passado juntos… talvez me acalmasse! Mas não. Tu cercas-me. Estás em todo o lado. Vejo-te como uma sombra minha. Ainda assim, não me deixas tocar-te… nem só estar por perto. Convidei-te para um café, numa madrugada de inverno qualquer, em que caminhavas para o escritório. Negaste. Desde aí negas tudo que venha de mim. Se fiz alguma coisa… conta-me. Conta-me o quê, não sei. Sinto-me atordoado sem a tua presença. No dia que te pedi presença ao pequeno-almoço e ma negaste, percebi que nada mais havia a perder. Porque tu, já estavas perdida. Sim! É verdade. Continuo a amar-te… tal e qual como antes. Desta forma verdadeira e insegura! Amar alguém que se coloca no topo, e pensar “eu não sirvo”. Que loucura é esta… o amor?!
João

Não é loucura! Desde cedo que me ensinaram que o amor era uma arma poderosíssima… que tanto podia estar contra nós; como a favor. É difícil explicar como acontece, como se transforma, como envolve as pessoas. Se te recordasses a primeira vez que nos beijamos, na relva do jardim, percebias que nada morreu… apenas mudou! Não quero deixar-te. Apagar-te subitamente da minha vida. Não quero perder-te. Quero apenas ser eu… e de certa forma não mo permitiste nunca. Tenho saudades tuas… como tenho saudades dos teus beijos, de te ter comigo, na minha cama. Amo-te como se fosses meu. Mas afinal, que loucura é esta?
Rita

domingo, 18 de julho de 2010

estranho


Estranho é quem olha o mundo sendo figurante na vida!
Estranho é beijar, e ficar na incerteza dum talvez amor…
Estranho é rir, e olhar o céu brilhante, duvidando!
Estranho é ser eu!

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Para mim, sim é! É difícil perceber…


Não tem força, não tem pensamentos, nem sequer tem existência própria! Não tem poder para comandar todo um mundo em seu sentido! Passa por todas as frinchas que possam existir, e voa… voa, tanto nos bons como nos maus momentos! É ele que dirige o sonho do passado e a insegurança do futuro. Sem que lhe dê permissão, comanda o meu dia, estabelece a ordem das coisas, faz-me ansiar momentos, perturba-me quando muitas vezes não passa… sim! Para mim, sim é! É difícil perceber…

Não é apenas difícil… mas quase impossível! Nem nos dá autonomia de voltar atrás… ou de prever o que se segue! E se agora temos tudo, no minuto seguinte, pode ser tudo névoa que vai desaparecendo com o nascer de um novo dia. O tempo… sim, é essa a razão do meu mal estar… dirigida por ele. Mesmo que não queira. Mesmo que me recuse a fazer parte duma sociedade apenas por não me deixar controlar pelo tempo, ele continua bem nos espaços que deixo livres. Á minha margem, ao meu lado! Como com uma corrente, em que a chave foi engolida pelo poderoso mar, e jamais se poderá reavê-la!

Foi o tempo o causador de toda esta infelicidade que me rodeia. Foi o tempo que não me deixou voltar atrás para estar com as pessoas que gosto. Foi o tempo que não me deixou prever o futuro para não sofrer. Foi o tempo que passou rápido o presente, mesmo quando eu estava com alguém que amo… e no final, ainda será o tempo que me levará daqui!!! Quando eu já estiver cá há muito tempo…

Mas, para mim, o mais imperceptível é a questão de tudo mudar em segundos. Em apenas um pestanejar eu posso perder tudo. Será esse mais um enigma da vivência do homem?


terça-feira, 15 de junho de 2010

PORTO PAUSA

"Eu não tenho filosofia: tenho sentidos" Alberto Caeiro


Ao interpretar um verso de Alberto Cairo, apercebi-me da sua razão! Agora consigo entender porque é que a felicidade é uma meta tão difícil de alcançar… “Eu não tenho filosofia: tenho sentidos!” Esta frase transforma o homem num animal como todos os outros, apagando a característica que os distingue: o pensar. E, lendo e relendo a frase, encontro a explicação para a procura incessante da felicidade por parte de milhares de pessoas, sem a conseguir atingir… o pensamento é a maior entrave quando se pretende alcançar a felicidade. E ninguém, nenhuma pessoa, nenhum ser com características humanas está livre deste tormento, que persegue todos os animais racionais para todo o lado. É indescritível esta capacidade que distingue o Homem dos outros seres vivos. Para tudo que se faz, pensa-se! E, os animais ou as plantas sobrevivem sem pensar… e ao fazê-lo vivem de felicidade pois não conhecem outro caminho para chamar de infelicidade. É confuso! Mas é assim. Se eu não tiver duas opções, não sei se vivo em felicidade ou não. Principalmente, se eu não pensar, não sei o que sinto! Logo, sinto-me bem! Estou a pensar quando olho para uma árvore, quando vejo o mar, quando observo um pássaro. Estou a pensar quando dou um beijo, quando sonho, ou quando ando de bicicleta. Estou a pensar, mesmo quando estou perdida na estrada, viajo de barco ou corro para aliviar o stress. Estou a pensar quando ouço música, quando canto ou danço! Estou a pensar para ver televisão, acender a luz ou cozinhar! É um pesadelo. Muito pior que a nossa própria sombra… é este pensamento que não me deixa escolher e decidir em paz… se não fosse o pensar, eu não demorava tanto tempo a decidir, a tomar medidas… estava agora relaxada, com a cabeça concentrada no vazio, a descansar! Difícil não é!!! Pois, não pensar é impossível. E quem diz que o consegue – mente! “Pensar incomoda como andar à chuva” – Alberto Caeiro.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Gato que brincas na rua

És feliz porque és assim.
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.

(última estrofe do poema "gato que brincas na rua")
Fernando Pessoa

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

sorriso

Tinha o sorriso mais calmo e transparente que uma mulher podia ter. Ninguém era indiferente ao gesticular da sua boca, dócil e infantil. Antes de sorrir, fazia sempre um biquinho que cativava quem a observava. Não que fosse perfeita. Era apenas linda, com um recorte de lábios magnífico. Os dentes brancos sobressaíam sempre no batom que colocava ao espelho antes de sair de casa. Vê-la na sua manifestação de alegria, era como contemplar o nascer do sol. Contagiante! Talvez mágico. Poder olhar aquele momento, e desfrutá-lo. Que apesar de ter tudo de comum com toda a gente, toda a gente sorri, era visto de um diferente prisma, apenas por amá-la. Agora, passado apenas um dia da sua morte, o marido olhava a eternidade do seu sorriso nas imensas fotografias espalhadas pela casa. Era imortal, aquele rir, apenas porque era o que fazia de melhor, por ser tão sincero. O amor fervilhou quando a viu sorrir a primeira vez. E, agora, depois de a ver ser coberta de terra, continuava a lembrar aquele sorrir, digno de um anjo. A sua paixão era algo que não dava para descrever. A ligação pertinente e feliz era recordada com orgulho. O primeiro amor, que se transformou numa paixão diária, e aproveitada, até aquele maldito tumor aparecer. Nada a fazia deixar de sorrir. Era com vaidade que observava todos aqueles momentos de felicidade da mulher, sabendo que poderiam ser os últimos. Mas nunca lho dissera. Limitara-se a viver como antes de tudo. Tinha uma vontade cega de imortalizar todas as oportunidades com ela, sabendo do negro futuro. Apesar de saber que, no filme da vida, não há o botão “pause”. Na sua cabeça arrumava as ideias, bem definidas. Sempre que podia, filmava ou tirava fotografias. Tudo o que pudesse marcar a sua vida com ela, era registado. Mas, agora, depois do funeral, o que tudo isso lhe trazia? Mágoa? Impotência de não comandar a vida de quem ama? Como conseguiria continuar a ser feliz, sem aquele amor? Sem aquele sorriso, que afastava tudo o que de mau os envolvia? Os momentos vivem-se na altura. Não há nada, recordação alguma, que tenha o poder de nos transportar para lá, e fazer sentir tudo o que se passou ali. Nem as alegrias ou tristezas, os cheiros, as cores, as pessoas que lá estavam. Nada conseguiria levá-lo dali para a eternidade com ela, para a felicidade.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Verde

Porque sim! Atormentas-me sem que eu te dê permissão. Procuro-te no ar, e nunca percebo bem onde ficas. Desfocado, permaneces sempre em silêncio, sem responder ás minhas perguntas. Berro porque me sinto desesperada, e assim, talvez me sinta mais livre. É confuso. Na realidade não sei o que achar de mim, quanto mais de ti. Vagueio apenas perdida num mundo, que por me envolver, nunca se esforça por me perceber. Inútil… não sei se tenho mais valor que uma folha em branco! Tantas linhas por escrever, tanta vida por viver. Preenches-me?

Verde


domingo, 14 de fevereiro de 2010

Sei lá...
Porque quando me tocas
Me elevas...
Flutuar no mar!
Quando me chamas...
Me desejas
Mas não queres amar!
O pecado...
Fruto, delicia de achar!
Venero-te
E, este quero-te
Nunca irá acabar...

30-01-2007

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Ser descontente é ser homem

O homem é um ser vivo muito complexo. Talvez o mais complicado de perceber, mas também o mais completo. Possui uma capacidade que o distingue dos demais… consegue pensar. E é o pensamento que o transforma e transporta, que o envolve em tudo o que compõe o seu leque de gostos.

Um traço bem vincado que caracteriza o homem, é o seu descontentamento face ao que o rodeia. Tem ambição, quer sempre mais. Devido á fantasia que vive dentro de si, e o motiva a avançar no processo que é viver. Sente-se descontente, mesmo quando conquista algo. Porque, na verdade, mesmo quando consegue alguma coisa, o seu pensamento já vai distante em outra meta que quer alcançar. É insaciável por isso mesmo. Ambiciona tudo, e nem o horizonte o limita. Isto porque os seus sonhos são capazes de revirar o mundo, transformar pensamentos, fazer surgir novas ideias. Nem o céu é o limite para as reflexões ou fantasias do homem. Sofrer é inevitável. Faz parte do percurso a percorrer. Magoa, faz com que o homem perca forças, faz até chorar… e muitas vezes desistir de algo. Ainda assim, o homem faz questão de criar novas metas, camuflando muitas vezes a dor com novas ambições.

O descontentamento forma o homem, pois os seus desejos são vários, e multiplicam-se á medida que se vão conseguindo conquistar alguns deles. O que distingue o homem dos outros seres vivos é exactamente isso: a capacidade de se conseguir transportar mentalmente para o paraíso, fazendo com que se sinta descontente, por não se puder transportar para lá fisicamente. Lutando assim para saciar as suas ambições e desejos, sendo descontente apenas por ser homem!

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Copo

Para escrita criativa foi nos pedido que fizéssemos um texto sobre um copo.

A vida de copo é complicada.

Aliás a vida é complicada.

A fragilidade do meu corpo também em nada ajuda, pois sou de vidro! Mas, nem assim me considero mais feliz! A minha vida é sobretudo ao fim da tarde e noite. Tirando isso, estou sempre aqui encaixado com os meus semelhantes… todos iguais nesta prateleira, e nem sempre a sorte é a minha, nem sempre sou eu o escolhido para servir alguém. A minha vida é uma monotonia… ora estou na prateleira, ou com um fino na mão do cliente, ou na máquina de lavar… sempre tive um grande sonho. Ser um copo com classe, com charme! Ser um copo de champanhe! Servir pessoas da classe mais alta. Servir pessoas com nível, chiques! Mas, agora contentava-me por ser o mesmo copo num hotel. Ou estava na esplanada, ou no bar no meio da piscina, ou na sala de jantar. Mas não! Estou aqui nesta taberna, na prateleira atrás do balcão, com este senhor carrancudo, o senhor Carlos, a transportar-me de um lado para o outro. Ou na máquina, ou na prateleira, ou na mesa. A minha vida é uma monotonia. Sou um copo em depressão… e ninguém cura os meus males! Ninguém me leva daqui para outro lugar. Nem os lábios que me tocam são macios e requintados como os das belas mulheres que tocam nos copos de champanhe. Mas agora, só me podia transformar se fosse para o vidrão. A composição do meu copo é rija, e não lasco nem parto. Já vi muitos amigos a irem embora porque lascaram ou partiram. Quem me dera que isso me acontecesse. Para dar uma volta á minha vida. Mas ainda sou do tempo em que as coisas eram feitas para durar, e nada me acontece. Não consigo dar a volta á minha vida que tanto queria. Os lábios que me tocam são apenas os de trabalhadores, que nem a barba fazem. Ai, as cócegas que me fazem. E o hálito? Ás vezes parece que estão zangados ou em greve com a escova dos dentes, ou a pasta dentífrica. Sou infeliz. As minhas características são comuns a todos os que partilham a prateleira comigo. Por isso é que resolvi escrever para o “Querido, mudei o copo”, para ver se me vêm buscar á taberna do Carlos e me transformam num copo de champanhe.


In Magazine Glass

“Confissões de um copo”

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

sombra


Se pudesse escolher entre eu e a minha sombra… escolhia a minha sombra! Inanimada, despreocupada! Sempre seguindo a sociedade á margem da população. Discreta, e sem um olhar importante. Não fascina ninguém. Persegue-me apenas a mim, nos dias de sol e por vezes á noite. Quanto maiores contrastes, mais nítida e forte se torna. Acompanha-me mesmo que precise de um tempo a sós. Nada lhe interessa a meu respeito. Mesmo conhecendo-nos desde o inicio da minha existência, permanece no lugar, até quando choro, e precisava de apoio. Nunca me tocou, ou se lembrou de vir para dentro de mim. Quem sabe, acompanhar-me lado a lado! Deixa-me á minha mercê. Sem dar importância á minha rotina, aos meus passos rápidos ou lentos, sem dar importância se vai desaparecer, ou se vai passear comigo toda a tarde. Deixa-se banal, colada no chão. Não me tenta ajudar, não me apoia, ou evita que eu caia. Se me magoar, ela está lá! Calada! Insegura, talvez. Mas nunca tremida. Acompanha o meu passo simetricamente, sem querer saber o que preciso. Mais alta ou mais baixa, é o meu contraste. Tento passar para essa mancha escura, que me acompanha muitas vezes reflectida no chão, tudo o que de mau tenho dentro de mim! Afinal… ela não sofre! Mas, serás tu realmente minha… sombra?

sábado, 9 de janeiro de 2010

posso realizar todos os meus sonhos este ano!

Precisava de me libertar, de repor energias, de ressurgir! No mundo que me rodeia, onde as pessoas estão por toda a parte, onde nada do que é considerado anormal é aceite, onde não se vive, passa-se a vida… saí á porta de minha casa e cantei na rua de calções em pleno Inverno! Rebolei na relva de pijama… saltei na porta de uma loja! Gritei e corri para aliviar todo o mal que estava encostado ao meu corpo! Ri-me sem motivo na Primavera, e no Outono saltei de pára-quedas a assobiar. Li as histórias de crianças na porta da igreja e andei de bicicleta na auto-estrada!

Será que ninguém precisa de cometer uma loucura para se sentir vivo?


quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

porta


Da palma da minha mão voei! Conseguia sentir aroma a café e a morangos frescos. Uma mistura de odores que me conseguia cativar á medida que estava mais perto. Num instante estava encostada a uma porta á espera de ouvir um “sim, entra”. Mas, essas palavras nunca foram ditas, nem tão pouco a porta aberta. Ficava só o cheirinho, e as manchas coloridas da porta. Se chorei? Sim, até mais do que devia! Mas e ela? Chorou?