segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

"There is no end to love" U2

Os passos eram apressados... Quase numa corrida caminhava na escuridão inglesa das 16h. Quantos mais passos dava, mais longe sentia que estava. E vivia esse momento de agonia e felicidade em simultâneo...

Lembro-me tão bem deste momento... Ao som dos terríveis U2. Ia por Billing Road, quase a saírem-me as pernas pela velocidade. Queria tanto chegar! E as lágrimas caiam-me de felicidade. Uma alegria tão boa dentro de mim!

A música explodia nos phones com a sua máxima intensidade. E foi ela que imortalizou o momento de querer chegar rápido. Ouço-a sempre que quero sentir o que senti naquele momento. Porque ela conseguiu imortalizar tudo o que sentia...

Tão bom que é amar e ser amado. Tão bom que é ser feliz... Mesmo que por momentos!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Somos todos loucos?



O olhar é um inferno. Umas vezes imóvel e fixo, outras vezes aparenta demasiada agitação comprimida e presa num só corpo. O espelho da alma torna-se assustador quando transparece uma realidade demasiado verdadeira. Tudo vem pelo olhar. A ansiedade, a loucura, o devaneio, e até a paz... Qualquer sentimento é projetado através da feição do olhar. E as confusões e delírios tornam estas pessoas, comummente chamadas de malucas, desinseridas da realidade que todos temos como sendo certa... Apesar de poder, talvez, não passar de uma ilusão. Uma fantasia onde se brinca em conjunto, mas que se desconhece a verdade...
Vejo, enquanto espero, várias pessoas. Todas com um ar, uma expressão, um aspecto que evidenciam diferenças. Mas são tantos... que podiam ser perfeitamente a sociedade normal. Porque não?
Uma senhora, de cabelo encaracolado, com madeixas naturais brancas e cinzentas, dedicava-se a apanhar meticulosamente todos os papéis que as pessoas deixavam para trás. Um senhor aparentando cerca de trinta anos estava imóvel em pé. De vez em quando afastava-se rapidamente como se o perseguissem. Olhava em todo o seu redor com uma expressão lunática e assustadora... Como se temesse algo. Havia também uma mulher que parecia uma criança, que se aproximava das pessoas e fazia festinhas no cabelo... Um rapaz andava agitado de um lado para o outro, sempre com um olhar completamente vazio, perdido. Como se algo estivesse dentro dele e quisesse simplesmente voar! Uma alma presa num corpo tenso. Uma senhora de idade andava com o telefone fixo a fazer chamadas para alguém, algures no mundo. Um idoso foi colher flores para as senhoras da secretaria...
Os loucos são assim tão diferentes de nós? Os chamados normais? Nós também não guardamos papéis que, aparentemente são lixo, mas por causa duma palavrinha ou momento mágico, fazem sentido na nossa vida? Nunca fugimos de alguém por medo? Mesmo que nem nos tivessem visto? Quando estamos a sofrer, nunca tivemos um olhar frio e vazio? Nunca fizemos uma festinha a um desconhecido? Mesmo que sem querer?! Nunca quisemos ir mais longe que o nosso corpo permite? Mais longe do que as nossas possibilidades? Nunca colhemos flores para alegrar o dia de alguém? 

Somos todos loucos?

Passado



Passados nove anos volto a entrar no jardim que foi miragem durante um mês. Pequenos flashes invadem a minha mente e criam uma confusão de sentimentos. Por um lado a dor e angústia de estar presa por um crime que nasceu de uma profunda tristeza e desespero. Por outro lado o vento na cara, o sol completo, as bonitas árvores, as pessoas... o regresso a casa... tudo se tornou mais importante, com um brilho maior, com uma intensidade melhor. O sabor da liberdade era permanente. Tudo parecia acabado de surgir. Tudo era tão novo. Tão diferente de antes... Tantas mudanças aconteceram na minha ausência do mundo.

Foram vários dias, demais até, a viver num sonho, onde a loucura e a diferença eram os estados normais... Infelizmente, não pelas boas razões! Mas pelas mais estranhas. Todos que eram considerados, de alguma forma diferentes, com comportamentos ou pensamentos distintos, eram depositados num espaço que prometia milagres e oferecia o inferno. Podia estar de passagem ou ser para sempre. Podia recuperar ou piorar... Tantas hipóteses existiam, mas o sofrimento estava sempre presente.

A rotina instalava-se. Os projetos desapareciam. A vida tornava-se apenas um ato simbólico de respirar. E embora estivesse num corpo que não me deixava pensar, a minha alma continuava a tentar escapar daqueles muros, daquelas grades, e sobretudo, daquelas pessoas. Continuava a tentar flutuar, transcender o meu universo real... simplesmente conseguir imaginar! Só assim permaneceria com vida...

A ilusão de tudo transformou o pesadelo numa amnésia quase total. Não por pedido... mas por defesa. E o esquecimento fez-me transformar tudo em algo incerto, desconhecido. Uma história de uma outra vida passada... Que recordo vagamente excertos, sem querer. A dor, o sofrimento, o desespero ficaram fechados juntamente com a Luísa que deixei naquele hospício.