quinta-feira, 27 de novembro de 2014

papagaio


“Mais alto que as nuvens!” gritava eu do outro lado da linha. Queria conseguir que o meu papagaio verde e laranja atravessasse o mundo. Não só queria que chegasse ao céu, mas que conhecesse o universo, que voasse sem pedir autorização, e, sobretudo, sem depender do fio que segurava suavemente com a mão esquerda. 
O vento puxava-o cada vez para mais longe... e eu deixava-o ir. Como se fosse um ser vivo qualquer que sentia necessidade de chegar sempre mais longe. 
Talvez o papagaio fosse um desabafo da minha alma, uma reprodução da minha mente sobre os meus verdadeiros sonhos e ambições. Queria que nada fosse controlado e tudo fosse possível. Sem depender do mundo, sem depender dos outros, sem depender de materiais! Simplesmente era tudo concretizável, todas as magias e fantasias que nos recebiam à noite, tornavam-se apenas numa realidade colorida e divertida. Sem questões. Sem entraves. Somente felicidade. 
Projetava no papagaio todas essas dúvidas e medos, bem como todas as alegrias que me deixavam descolar os pés do chão e viajar pelo desconhecido. Um simples pedaço de papel devolvia-me todo o sentido de estar vivo... somente por se deixar levar pelo vento... E tu? Deixas-te levar?

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

 
Era tudo tão simples quando só corria descalça na areia fria de inverno. Rapidamente se foi desvanecendo essa teoria de autenticidade e felicidade pura quando começaram a chover indecisões, tristezas, hesitações. Assim se foram construindo as ilusões e os sonhos dentro de mim, que não passavam disso mesmo. O desgosto da tontura da minha vida, levava-me cada vez mais perto da loucura. Sem ambições, sem alegrias, sem sonhos. Que vida é esta? Pobre. Despida. Perdida. Uma total inocência de vida livre, despreocupada, arrumada. Não tenho. Não quero, também. Quero só a alegria e poder de viajar na minha cabeça e esconder-me entre os pensamentos aliciantes que construo sobre mim. Quero conseguir renascer. Voltar a sentir como antes. Antes disto. Antes de tudo. Quero só conseguir viver, em toda a sua plenitude, com todas as suas possibilidades, magias, implicações. Quero tudo e mais qualquer coisa que ainda não tenha descoberto. Simplesmente quero-me a mim, feliz. Espontânea. Envolvida pela vida.
Há dias em que por mais que o sol brilhe é tudo tão cinzento, tão apagado e triste que desmotiva e desanima o meu coração. Não sou mais eu, nem menos eu. Sou apenas eu na minha circunstância... de mal estar. Por mais que eu queira, corra, procure... há sempre algo que me cai no colo como se fosse um enorme pedregulho de gelo. Esfria, petrifica, deprime, entristece, paralisa. Deixa-me num estado perdido... angustiada, sem forças. Apenas porque eu não posso mudar o que não depende de mim! E isso vai-me empurrando para trás, deixando mais longe de uma possível e imaginária meta, querendo colocar-me à margem de tudo. Não queria controlar o mundo... queria só controlar-me! Conduzir a minha vida num sentido positivo, resolvendo todos os problemas com magia. Não dá! Infelizmente não é possível. Concretizável! E isso custa-me. Tira-me todas as minhas forças! Quero tanto que passe. Desapareça.
Há dias em que sou feliz. Mais contente que ontem... Mais radiante, histérica, verdadeira!! Mais eu!
E são tão bons os dias em que os saltos de euforia não chegam para transparecer a alegria que vai dentro de mim. Um sabor especial, uma vontade súbita de estar tudo bem. 
E o mundo, em sintonia comigo, irradia um sol que preenche o céu e me lava a alma. Tão bom que é estar bem... Apesar das tristezas... Apesar das frustrações, problemas... Apesar da vida! Tão bom que é viver... Mais que mágico! É um êxtase de emoções indefinidas, um culminar de sensações inesperadas, uma junção de amores e desamores que nos envolvem e afastam! Tão boas que são as diferentes intensidades, as surpresas e a calma! Afinal, viver é só uma mistura de sonhos e pesadelos...

terça-feira, 4 de novembro de 2014


Que confusão está entre os meus pensamentos e as minhas ações. Queria ser explícita. Queria que todos percebessem as minhas intenções, as minhas palavras. Ao invés disso, nem eu me percebo. Como farei com que entendam os meus completos e extremos devaneios?
Consigo estar sempre no limite das emoções. Não conheço o meio termo. Os extremos sempre me acompanharam... e definitivamente começam a irritar-me! Esta inconstância, esta incerteza fazem com que não me conheça. Com que me surpreenda a mim mesma.
Não queria que assim fosse. Eu tento estar no limiar do correto, tal como as milhares de outras pessoas. Não consigo. É mais forte que eu. É uma impotência completa... esta inconformidade com o que é normal.
Eu não quero ser assim! Eu tento... mas eu não consigo. São as lágrimas e os sorrisos em simultâneo que me baralham; as palavras que se atropelam na minha cabeça, de amor e de desespero; são os meus gestos explícitos que têm tanto de característico como de impaciência. Sou toda eu! Um culminar de diferentes misturas coincidentes.
Não tenho paz. Não tenho sossego, repouso, descanso. Vivo colada a uma instabilidade que já me deu das maiores maravilhas da vida, como já me roubou o chão sem avisar. Em apenas segundos consegui trocar choros por risadas sem sequer me questionar! 
Vou continuando nesta montanha russa que me leva aos limites e não pára. Simplesmente porque, quando parar, não viverei mais na roda da vida, mas sim na frieza imóvel da outra dimensão.

Quero um refúgio! Que me esconda e me liberte consoante os meus sentimentos... as minhas necessidades. É difícil enfrentar a realidade, sobretudo quando temos sempre um sorriso no rosto. 
Quero esconder-me... todos os dias mais longe, todos os dias mais perto. Sempre na minha confusão, nas minhas dúvidas que não me deixam aliviada. 
Viverei sempre assim? Num mar de incertezas que me levam ao limite, mas também numa imensidão de maravilhas! É difícil conjugar esta dupla dimensão que a vida nos obriga a aceitar.
Um turbilhão de emoções e palavras atravessam o meu pescoço e saem pela minha boca, angustiando-me e sorrindo-me como se assim fosse normal. Não quero estar triste e feliz, num mesmo corpo, numa mesma altura. Quero que todas as diferenças se mantenham como tal, nos seus lugares para as distinguir.
E assim vou continuando. A remar contra a maré e ao mesmo tempo ao sabor do vento. Esta dupla intensidade, esta mistura de sentimentos, esta dor e extrema felicidade... ocupam o meu coração e refletem na minha cabeça!
Cansa muito... mas é bom viver!