quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

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Não dá para descrever, não há uma palavra que diga exactamente o que é, isto sente-se!

domingo, 6 de dezembro de 2009

Miséria


Recordar é viver…



Poema 12 de Julho de 2005



Miséria



Ali… no meio do nada


Estava uma criança caída…


Mostrava tristeza e medo…


Mas mostrava também,


Que a morte se iria apoderar dela.


Ali, deitada no chão,


Chorava a falta de carinho da mãe,


A saudade do pai,


A vida injusta que a fez nascer.


Chorava ainda,


A fome que tinha,


A desgraça dos seus pais,


Que trabalhavam dia e noite,


Para trazer um simples pão,


Que fizera aquela criança chorar tanto.



No Natal, e nas épocas festivas que se comemoram com a família, passa-nos completamente ao lado tudo o que rodeia a nossa vida, tudo o que faz o mundo. Concentra-se em si e nos seus, esquecendo que o mundo é dar e receber. Tenho muita pena, que só no Natal se lembrem que as crianças gostavam de uma prenda ou de um doce. Quando, se calhar, durante todo o ano passam fome. Porque quem vive, vive todo o ano, não vive três dias por ano, que é quando as pessoas se lembram!

Eu


Recordar é viver…



Poema Julho de 2005



Eu



Eu sou a que passa na rua e todos ignoram


A que chora sem saber porquê


A que grita por medo…


Eu,


Eu sou a que sorri, e ninguém presta atenção


A que olha, e afastam seus olhares


A que foge do silêncio, e


Procura as palavras que nunca lhe disseram…


Eu,


Eu sou a que não quer viver nesta vida sem sentido


Sou a que ninguém compreende nem quer compreender


Sou a que isolam sem saber o motivo.


Eu…


Eu sou ninguém…


Mas para mim,


Sou alguém que vai continuar a ser assim!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Álvaro de Campos


(imagem: flor cansada de viver.)



Fernando Pessoa é considerado um dos maiores poetas portugueses. Apesar disso, a sua versatilidade e personalidade confundem muitas pessoas, e a outras, despertam ainda mais interesse em estudá-lo. Na verdade, Pessoa é uma caixinha de surpresas… Por mais que se tente percebê-lo, todo ele era contraditório. E, conseguir compreendê-lo na sua totalidade, na minha opinião, é completamente impossível. Sobre Pessoa nunca se saberá tudo. Mas concordo que será uma eterna inspiração, no que se refere á literatura. Fernando Pessoa conseguia transformar simples palavras, uma caneta e uma folha de papel, em sentimentos.

Mesmo assim, a cabeça de Pessoa era de tal forma um turbilhão de ideias, que não prescindiu de subdividir a sua imaginação, em diversos heterónimos. Ou seja, o seu pensamento era de tal forma abrangente e contraditório, que teve necessidade de criar várias pessoas/personalidades, para assim, conseguir acompanhar os seus raciocínios, os seus pensamentos, as suas vontades.

Álvaro de Campos surge como oposição a Ricardo Reis; o que Reis tem de exacto, Campos tem de maleável, o que Reis apresenta de rigoroso, Campos demonstra irracional. Este heterónimo de Pessoa, tem como ideal de vida, sentir tudo de todas as maneiras e de todas as formas. Para Campos a sensação é tudo; ou seja, o sentir é a base da vida de todas as pessoas. Ninguém pode estar indiferente a uma sensação. E, ele, procura aproveitar todas as sensações até á ultima gota, até á exaustão, até que se sinta vivo, devido a tal! Sendo assim, a sensação é a essência da vida, e a base deste heterónimo.

Poeta sensacionalista por excelência, “escandaloso” e moderno, Campos descreve um mundo em mudança, por causa da revolução industrial.

Fernando Pessoa já era contraditório. Mas, Álvaro de Campos também passa por três diferentes formas, que se reflectem nos seus diversos poemas. A primeira fase, a fase futurista (que se verifica no poema “Ode Triunfal”) caracteriza-se por um êxtase total devido ao “mundo industrial” da época. É a pura euforia, o deslumbramento, o histerismo genuíno pela indústria. Tem até, uma atracção erótica, desejo pelas máquinas. A segunda fase – fase Decadentista – que está explicita, por exemplo, no poema “Opiário”. Baseada também nas sensações, procura novas sensações, pois exprime cansaço e tédio. Nesta fase o poeta encontra-se “perdido”/nostalgico, com falta de um rumo para a sua vida. Está farto da monotonia! É marcado pelo romantismo e pelo simbolismo. A última fase, a fase Intimista, analisa-se no poema “O que há em mim é sobretudo cansaço”. Nesta etapa, Campos sente-se vazio, incompreendido e marginal. Marginal não no sentido de delinquente ou criminoso, mas no sentido de estar á margem da sociedade. Ou seja, a sociedade contenta-se com isto, mas ele, para sobreviver tem uma necessidade, uma ambição de mais. De algo que o preencha! Sofre assim, fechado em si mesmo. Sente-se angustiado e cansado.

Álvaro de Campos tem a necessidade de ultrapassar os limites, afundar as barreiras e derrubar obstáculos – tem sede de mais sensações! É alguém tão insaciável, que deseja até “ser toda a gente em toda a parte”. Mas, nem toda a sua vida é homogénea. Se é eufórico também se sente cansado a ponto de desejar destruir a sua própria vida.

Para mim, Fernando Pessoa é um espelho da sociedade. Mas nele apenas se transparecem as loucuras que muitas vezes são escondidas dentro de cada um, apenas por causa da imagem, pelo que os outros pensam de nós. É admirável ver alguém assim. Sem preconceito ou barreiras que o impeçam de ser imensas pessoas num só corpo. Ninguém pode impedir os sonhos, a imaginação que cada um transporta dentro de si. Fernando Pessoa é a prova de que podemos seguir a nossa loucura mental. Um grande poeta, do qual nasce o heterónimo de que falo nesta dissertação. Por gostar mais de Álvaro de Campos, resolvi escolhê-lo para tema. Apesar de todos os seus devaneios tem razão – as sensações são a base da vida.