sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
Gato que brincas na rua
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
(última estrofe do poema "gato que brincas na rua")
Fernando Pessoa
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
sorriso
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Verde
domingo, 14 de fevereiro de 2010
domingo, 7 de fevereiro de 2010
Ser descontente é ser homem
Um traço bem vincado que caracteriza o homem, é o seu descontentamento face ao que o rodeia. Tem ambição, quer sempre mais. Devido á fantasia que vive dentro de si, e o motiva a avançar no processo que é viver. Sente-se descontente, mesmo quando conquista algo. Porque, na verdade, mesmo quando consegue alguma coisa, o seu pensamento já vai distante em outra meta que quer alcançar. É insaciável por isso mesmo. Ambiciona tudo, e nem o horizonte o limita. Isto porque os seus sonhos são capazes de revirar o mundo, transformar pensamentos, fazer surgir novas ideias. Nem o céu é o limite para as reflexões ou fantasias do homem. Sofrer é inevitável. Faz parte do percurso a percorrer. Magoa, faz com que o homem perca forças, faz até chorar… e muitas vezes desistir de algo. Ainda assim, o homem faz questão de criar novas metas, camuflando muitas vezes a dor com novas ambições.
O descontentamento forma o homem, pois os seus desejos são vários, e multiplicam-se á medida que se vão conseguindo conquistar alguns deles. O que distingue o homem dos outros seres vivos é exactamente isso: a capacidade de se conseguir transportar mentalmente para o paraíso, fazendo com que se sinta descontente, por não se puder transportar para lá fisicamente. Lutando assim para saciar as suas ambições e desejos, sendo descontente apenas por ser homem!
sábado, 6 de fevereiro de 2010
Copo
A vida de copo é complicada.
Aliás a vida é complicada.
A fragilidade do meu corpo também em nada ajuda, pois sou de vidro! Mas, nem assim me considero mais feliz! A minha vida é sobretudo ao fim da tarde e noite. Tirando isso, estou sempre aqui encaixado com os meus semelhantes… todos iguais nesta prateleira, e nem sempre a sorte é a minha, nem sempre sou eu o escolhido para servir alguém. A minha vida é uma monotonia… ora estou na prateleira, ou com um fino na mão do cliente, ou na máquina de lavar… sempre tive um grande sonho. Ser um copo com classe, com charme! Ser um copo de champanhe! Servir pessoas da classe mais alta. Servir pessoas com nível, chiques! Mas, agora contentava-me por ser o mesmo copo num hotel. Ou estava na esplanada, ou no bar no meio da piscina, ou na sala de jantar. Mas não! Estou aqui nesta taberna, na prateleira atrás do balcão, com este senhor carrancudo, o senhor Carlos, a transportar-me de um lado para o outro. Ou na máquina, ou na prateleira, ou na mesa. A minha vida é uma monotonia. Sou um copo em depressão… e ninguém cura os meus males! Ninguém me leva daqui para outro lugar. Nem os lábios que me tocam são macios e requintados como os das belas mulheres que tocam nos copos de champanhe. Mas agora, só me podia transformar se fosse para o vidrão. A composição do meu copo é rija, e não lasco nem parto. Já vi muitos amigos a irem embora porque lascaram ou partiram. Quem me dera que isso me acontecesse. Para dar uma volta á minha vida. Mas ainda sou do tempo em que as coisas eram feitas para durar, e nada me acontece. Não consigo dar a volta á minha vida que tanto queria. Os lábios que me tocam são apenas os de trabalhadores, que nem a barba fazem. Ai, as cócegas que me fazem. E o hálito? Ás vezes parece que estão zangados ou em greve com a escova dos dentes, ou a pasta dentífrica. Sou infeliz. As minhas características são comuns a todos os que partilham a prateleira comigo. Por isso é que resolvi escrever para o “Querido, mudei o copo”, para ver se me vêm buscar á taberna do Carlos e me transformam num copo de champanhe.
In Magazine Glass
“Confissões de um copo”