Passados nove anos volto a
entrar no jardim que foi miragem durante um mês. Pequenos flashes invadem a
minha mente e criam uma confusão de sentimentos. Por um lado a dor e angústia
de estar presa por um crime que nasceu de uma profunda tristeza e desespero. Por
outro lado o vento na cara, o sol completo, as bonitas árvores, as pessoas... o
regresso a casa... tudo se tornou mais importante, com um brilho maior, com uma
intensidade melhor. O sabor da liberdade era permanente. Tudo parecia acabado
de surgir. Tudo era tão novo. Tão diferente de antes... Tantas mudanças aconteceram
na minha ausência do mundo.
Foram vários dias, demais
até, a viver num sonho, onde a loucura e a diferença eram os estados normais...
Infelizmente, não pelas boas razões! Mas pelas mais estranhas. Todos que eram
considerados, de alguma forma diferentes, com comportamentos ou pensamentos distintos,
eram depositados num espaço que prometia milagres e oferecia o inferno. Podia estar
de passagem ou ser para sempre. Podia recuperar ou piorar... Tantas hipóteses existiam,
mas o sofrimento estava sempre presente.
A rotina instalava-se. Os projetos
desapareciam. A vida tornava-se apenas um ato simbólico de respirar. E embora
estivesse num corpo que não me deixava pensar, a minha alma continuava a tentar
escapar daqueles muros, daquelas grades, e sobretudo, daquelas pessoas. Continuava
a tentar flutuar, transcender o meu universo real... simplesmente conseguir imaginar!
Só assim permaneceria com vida...
A ilusão de tudo transformou
o pesadelo numa amnésia quase total. Não por pedido... mas por defesa. E o
esquecimento fez-me transformar tudo em algo incerto, desconhecido. Uma história
de uma outra vida passada... Que recordo vagamente excertos, sem querer. A dor,
o sofrimento, o desespero ficaram fechados juntamente com a Luísa que deixei
naquele hospício.
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